quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Epa Babá Oxalá!

Oxalufã (a versão velha de Oxalá) era um rei muito idoso que andava com dificuldade, apoiado em seu cajado, o opaxorô. Um dia, sentindo saudades do filho Xangô, resolveu visitá-lo. Como era costume na terra dos orixás, consultou um babalaô para saber como seria a viagem. Este recomendou que não viajasse. Mas, como o orixá teimava em ver o filho, foi instruído a levar três roupas brancas e limo da costa (pasta extraída do caroço de dendê) e fazer tudo o que lhe pedissem.

Com essas precauções, o orixá partiu e, no meio do caminho, encontrou Exu Elepô, dono do azeite-de-dendê, sentado à beira da estrada, com um pote ao lado. Com boas maneiras, ele pediu a Oxalufã que o ajudasse a colocar o pote no ombro. O velho orixá, lembrando das palavras do babalaô, resolveu auxiliá-lo; mas Exu Elepô, que adora brincar, derramou todo o dendê sobre Oxalufã.

O orixá manteve a calma, limpou-se no rio com um pouco de limo, vestiu outra roupa e seguiu viagem. Mais adiante encontrou Exu Onidu, dono do carvão, e Exu Aladi, dono do óleo do caroço de dendê. Por duas vezes mais foi vítima dos brincalhões e procedeu como da primeira vez, limpando-se e vestindo roupas limpas, continuando sua caminhada rumo ao reino de Xangô.

Ao se aproximar das terras do filho, avistou um cavalo que conhecia muito bem, pois presenteara Xangô com o animal tempos atrás. Resolveu amarrá-lo para levá-lo de volta, mas foi mal interpretado pelos soldados, que julgaram-no um ladrão. Sem permitir explicações, eles espancaram o velho até quebrar seus ossos e o arrastaram para a prisão. Usando seus poderes, Oxalá fez com que não chovesse mais desse dia em diante; as colheitas foram prejudicadas e as mulheres ficaram estéreis.

Preocupado com isso, Xangô consultou seu babalaô e este afirmou que os problemas se relacionavam a uma injustiça cometida sete anos antes, pois um dos presos fora acusado de roubo indevidamente. O orixá dirigiu-se à prisão e reconheceu o pai. Envergonhado, ordenou que trouxessem água para limpá-lo e, a partir desse dia, exigiu que todos no reino se vestissem de branco em sinal de respeito ao pai, como forma de reparar a ofensa cometida.

É por isso que em todos os terreiros do Brasil comemoram-se as Águas de Oxalá, cerimônia na qual, todos os participantes vestem-se de branco e limpam seus apetrechos com profunda humildade para atrair a boa sorte para o ano todo.


(itan de domínio popular)

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