- Carta encaminhada, à imprensa, pela Sra. Suzana Sofia Moeller Schettini, Presidente do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção no Recife
Prezados Senhores,
A associação entre adoção e delinquência lançada subliminarmente à sociedade nas entrelinhas das reportagens que se referem ao assassinato do casal de Olinda, causa incômodo e tristeza a muitos pais e filhos adotivos, pois reforça preconceitos já existentes no imaginário social.
A adoção é apenas um fato histórico na biografia do assassino, não é o que determina as suas ações. Entretanto, tem sido o primeiro quesito a ser relacionado ao seu perfil.
Filhos são filhos tão somente. Não importa se adotivos ou biológicos. Na verdade, crianças se tornam filhos apenas se forem afetivamente adotadas pelos seus pais.
Aconteceram vários outros casos de tragédias humanas no passado, promovidas por filhos biológicos, e não se verificou nenhuma referência à sua origem biológica. Por que quando o criminoso é adotivo a questão de sua origem ganha tanta relevância?
No Brasil existem milhares de famílias adotivas felizes, cujos filhos foram muito desejados, são amados e criados com muito carinho e desvelo.
Há mais de 20 anos temos em curso o Movimento Nacional Pró Adoção, promovido por entidades chamadas Grupos de Estudo e Apoio à Adoção (os GAAs) - são mais de 100 distribuídos em todos os Estados brasileiros - que são afiliados à Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD).
O Movimento Nacional trabalha por uma nova cultura de adoção, livre de preconceitos e discriminações e pelo direito de toda a criança a ter uma família. Os esforços conjuntos convergem para uma mudança de paradigma na adoção: ao invés de procurarem-se crianças para famílias que não podem tê-las, procurarem-se famílias para crianças que já existem.
Temos cerca de 40.000 crianças institucionalizadas que precisam de uma família e não a conseguem por encontrarem-se fora do perfil desejado pela maioria dos pretendentes à adoção: não são bebês, nem brancos, nem meninas, nem saudáveis.
Como disse Einstein, "é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito".
A associação nociva entre adoção e delinquência, certamente deixará os seus efeitos nefastos na memória social.
O fantasma do medo assombrará o imaginário dos pretendentes à adoção e os filhos adotivos, por muito tempo, serão apontados com desconfiança e temor! Entretanto, serão as crianças institucionalizadas que pagarão o ônus maior, pois este cenário apenas contribui para postergar mais e mais as suas oportunidades de nova inserção familiar.
Em nome de todos os pais e filhos adotivos brasileiros, pedimos encarecidamente a sua consideração a respeito do exposto.
Antecipadamente agradecemos.
Atenciosamente,
Suzana Sofia Moeller Schettini
Presidente do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção no Recife
Mãe adotiva
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